Mulheres adultas também colocam implantes de silicone durante o inverno.
Alguns médicos, porém, evitam fazer e são contra a cirurgia em jovens.
Kleber Tomaz
Do G1 SP
Nesta volta às aulas, algumas adolescentes aparecerão diferentes em sala e deverão chamar a atenção dos garotos. Em nome da beleza, muitas meninas têm trocado viagens durante as férias escolares por consultas com cirurgiões para colocar silicone nos seios.
Parte das garotas, de 12 a 18 anos, não vê a hora de estrear o implante e dividir a novidade com os colegas de classe.
“Foi presente antecipado de aniversário melhor que qualquer viagem. Chego à maioridade em agosto, mas não aguentei esperar. Ganhei os implantes do meu pai, mas ajudei a pagar com o dinheiro que guardei da mesada, viu?! Sempre admirei e achei lindo seios grandes e considerava os meus muito pequenos. Quis peitos bonitos como os da minha mãe, que já têm silicone. Mas meu sutiã não passava do tamanho 36 e eu usava com bojo para parecer que eles eram maiores”, diz a estudante Raysa Martins de Jesus, que aos 17 anos colocou 300 ml de silicone no último dia 12.
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Apesar de a operação ter sido recente, Raysa diz estar recuperada e ansiosa para retornar à escola, nesta semana, em Americana, no interior de São Paulo. “Agora eu tenho ‘peito’”, brinca a garota, em entrevista ao G1.
“Desde os 14 anos minha filha falava que os seios dela eram pequenos e me pedia para pôr silicone, mas eu dizia que não, que ela ainda era muito nova. Depois que eu coloquei as próteses em mim neste ano, minha filha insistiu mais. A levei ao médico e como ele disse que o peito dela não cresceria mais, decidimos fazer a plástica nela”, diz a mãe de Raysa, a empresária Lucimara Martins Camilo, de 36 anos.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), julho concentra, tradicionalmente, o maior número de intervenções cirúrgicas durante o ano, com um aumento de 50% nas operações plásticas em relação aos outros meses. Dois são os motivos: férias escolares e inverno.
“Julho é um período de férias escolares, as pessoas conseguem programar a cirurgia e se recuperar com mais calma. E também tem o inverno que aumenta procura por cirurgia plástica. A opção de operar no frio se deve ao maior conforto pós-operatório. Há menor exposição aos raios solares, o que contribui para uma melhor cicatrização e menor inchaço. Outra vantagem é que o resultado final aparece dentro de seis meses, o que significa aproveitar o verão tranquilamente”, explica o presidente da SBCP, Sebastião Guerra, que trabalha como cirurgião plástico em Belo Horizonte.
Apesar de os dados sobre cirurgias deste semestre ainda não terem sido computados pela entidade, a estimativa da sociedade é que as adolescentes irão responder por 10% do total de plásticas neste ano. Além das estudantes, as mães delas também aproveitam as folgas das filhas e a baixa temperatura para fazer a plástica.
“Nessa época de frio não tem sol e praia. Há um aumento considerável mesmo na procura”, confirma a cirurgiã plástica Ana Helena Patrus, sócioprorietária da Clínica Santé, em São Paulo.
‘Me chamavam de reta’
Para resgatar a autoestima, as pacientes suportam os pontos, a cicatriz, o inchaço, o incômodo de não poder erguer os braços por determinado tempo e a dor da operação. “Doeu um pouquinho sim, mas valeu a pena. O resultado foi ótimo. Só quando eu coloquei as próteses passei a me sentir mulherão”, argumenta a modelo gaúcha Bruna Molz, de 21 anos, uma das princesas da Oktoberfest de Santa Cruz do Sul (RS) deste ano.
Bruna colocou 300 ml, no inverno de 2007, quando tinha 17 anos. O presente de aniversário dos pais fez com que o sutiã dela saltasse do número 36 para o 42. A loira de 1,75m afirma que só fez a cirurgia porque era traumatizada pela ausência de seios volumosos. “Fui vítima de bullying na escola. Sempre tive bunda grande, mas não tinha peito. Me chamavam de ‘bundita’ e de ‘reta’. Sofri mais nos concursos, quando vi as outras meninas com peito. Eu era um gurizinho. Teve uma vez que cheguei a chorar. Agora tudo ficou proporcional e estou mais feliz.”
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, enquanto o número de adolescentes que recorrem à plástica tem aumentado nos últimos anos, a idade delas também vem diminuído. Quinze anos de idade é a média para a colocação de silicone, por exemplo.
Levantamento inédito encomendado pela entidade em 2009 mostrou que dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos feitos entre setembro de 2007 e agosto de 2008, 37.740 foram feitos em adolescentes. Para chegar a esse número, que corresponde a 8% do total de intervenções no país naquele período, foram ouvidos 3.533 cirurgiões associados.
“Eu mesmo já coloquei silicone numa menina norueguesa de 13 anos, mas com cara de 18. Mas ela estava com quase 1,70 m, já havia menstruado. Esse caso é raro, mas nos últimos três anos, pus próteses em oito garotas com menos de 15 anos”, diz o presidente da SBCP, Sebastião Guerra.
O médico Hermes Masayuki, de Santo André, no ABC, responsável pelos implantes em Lucimara e Raysa, afirma que a colocação da prótese depende de cada paciente.
“Vejo se existe um trauma psicológico muito grande, se a cirurgia é para fins estéticos ou correção de assimetria mamária, se o interesse de aumentar os seios é algo pessoal ou se está influenciada por amigas. Devemos saber também quando veio a primeira menstruação, idade atual, se faz uso de contraceptivo hormonal, se nos últimos 12 meses sentiu aumento das mamas, e se o peso, altura e o manequim estão estacionados”, elenca Masayuki.
Somente após essas avaliações e o exame físico é que o médico sugere o volume da prótese a ser colocado.
Contra silicone na adolescência
Mas há médicos que evitam fazer cirurgias de implantes de silicones em seios de adolescentes.
“Menininha de 15 anos que quer prótese porque coleguinha pôs ou viu na TV não me convence. É a mesma coisa que pai deixar filho menor pegar carro para dar uma volta. Se vir adolescente, não deixo de atender. Tenho conversa franca junto com os pais, mas mesmo que eles autorizem e adolescente queira, é o cirurgião quem decide”, afirma Ruben Penteado, cirurgião plástico, diretor do Centro de Medicina Integrada em São Paulo. “Com o corpo da adolescente em formação, em crescimento, a intervenção cirúrgica deve ser feita se necessário.”
Em 17 anos como cirurgião plástico, Penteado diz ter atendido cerca de 3,5 mil pacientes, sendo que 15% foram adolescentes procurando uma consulta. “Mas desse percentual, operei 1%. A maioria eu recuso. Eu insisto nessa postura para não banalizar a coisa”, diz ele, que é pai de uma adolescente de 14 anos. “Até agora ela ainda não me pediu nada de plástica.”
A ex-participante da edição número 11 do reality show Big Brother Brasil, a professora de edução física Janaina Santos, de 26 anos, gostaria de ter colocado silicone na adolescência, mas se achava muito nova. “Fiz a plástica neste ano. Queria pôr desde os meus 17 anos, mas acho que fiz bem em não colocar na adolescência. Adolescente não tem muita noção do que faz.”
A atual rainha da Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, a estudante gaúcha Emily Dockhorn, atualmente com 21 anos, só colocou o silicone após os 18 anos. “Adolescente tem sonhos. É o sonho de qualquer adolescente pôr silicone. Cada vez mais, ela procura pela plástica e beleza, vê isso nas revistas e passarelas. Cabe encaminhamento psicológico. É um ato de responsabilidade”, diz ela, que, com o incremento de 300ml em cada seio foi do sutiã 42 para o 46.
Misses teens ganham plástica
Apesar de terem ganho como prêmio R$ 20 mil em cirurgia plástica em algumas clínicas, as duas últimas ganhadoras do concurso Miss Teen Brasil dizem que ainda estão muito novas e não pensam em pôr silicone tão cedo.
A estudante Ana Júlia Dorigon, de 1,70m, e 51kg, de Campinas, levou o título em 2009, quando ainda tinha 15 anos. Agora com 17, pensa em seguir a carreira de modelo ao natural. “Eu não tenho muito peito, uso tamanho 40, mas não vejo necessidade de colocar prótese. Temos recursos para aumentar na hora do concurso, como, por exemplo, usar um sutiã que junta os seios para eles parecerem maiores e mais volumosos”, brinca.
“Não sou contra a plástica, só não apoio o uso excessivo. Já cheguei a ver meninas de 14 anos com silicone nos concursos”, opina Ana Júlia.
A atual Miss Teen Brasil, a estudante Gabriele Marinho, uma loira de olhos verde e 17 anos, diz que pretende usar o prêmio da plástica para pôr silicone só quando ficar mais velha. “Se a lei da gravidade tomar conta, quem sabe? Por enquanto prefiro correr e malhar. Melhor fazer com 18 anos”, diz ela, que tem 1,69m, pesa 49 kg e está satisfeita com seu sutiã tamanho 42.
Gerson Antonelli, diretor-executivo do concurso Miss Teen Brasil, afirma que após o concurso fica a critério das garotas e de seus responsáveis fazer ou não plásticas. “Não incentivamos ninguém a fazer. Optamos pela beleza natural, mas não perguntamos a elas quem fez alguma plástica. Se fez, não temos conhecimento.”
A próxima edição do concurso deverá acontecer em agosto em Guarulhos, na Grande São Paulo. A idade mínima é de 14 anos e a máxima 19 anos incompletos. São R$ 50 mil em prêmios para as vencedoras, como curso de línguas no exterior.
Psicólogo
Walter Poltronieri, pesquisador e professor doutor em psicologia social pela Universidade de São Paulo (USP), recebe muitas adolescentes que são encaminhadas a ele por cirurgiões plásticos que querem uma avaliação psicológica da garota que deseja pôr silicone.
“Quem quer peito maior quer se sentir mais sedutora. A cultura do corpo é uma megatendência. Atendi moça que queria redução, a mamoplastia redutora. Ela tinha dor nas costas e os seios chamavam a atenção indesejada. É fato que era preciso tirar a pedra do sapato e eu concordei com a plástica. Já outra menina queria seios maiores, mas ela já os tinha. Nos testes, ela demonstrou que estaria competindo com a mãe. Ela ia fazer 15 anos e queria pôr silicone como presente de aniversário. Além disso, na cabeça dela, havia uma competição com a mãe para ver quem tinha mais peito. Conversei com a mãe, que também era contra a cirurgia, que seria gratuita num hospital público, porque a família não tinha renda. Mas eu disse ‘não’ para a cirurgia com uma justificativa: de que a garota fosse encaminhada para um tratamento”, diz Poltronieri.
Mães e filhas
A relação de mãe e filha é muito presente em diversos relatos sobre plástica. “O perfil das pacientes é adolescentes em férias e de suas mães”, diz o médico Fernando de Almeida Prado, de São Paulo, membro e diretor da SBCP.
Em muitos casos, as filhas seguiram os passos das mães. É o que ocorreu com Marilia Caputi, de 45 anos, e Pamela Caputi, de 26. Marília, que é apresentadora de TV em Americana, pôs silicone primeiro.
A filha dela, Pamela, que colocou 300ml, poderá superar os 380 ml da mãe no futuro. “Quero ir para 400ml”, conta ela, que é enfermeira em Praia Grande, litoral paulista. Jéssica Freitas, de 21 anos, também se inspirou na mãe, Cleonice Ferreira dos Santos, de 42 anos. As duas moram em São Bernardo do Campo, no ABC, e operaram com o mesmo médico. A diferença é que a estudante colocou as próteses quando fez 18 anos e a empresária, com 32 anos.
Veteranas no quesito silicone, as modelos Gil Jung e Núbia Oliiver alertam para os riscos de uma cirurgia mal feita.
“O médico precisa ter uma boa indicação, alguma referência. Não procure o primeiro que aparece”, diz Gil, 25 anos e três trocas de próteses. A última foi em julho de 2009, quando colocou 450ml em cada seio.
Se preparando para realizar a quinta cirurgia plástica de mama neste mês, a atriz e modelo Núbia Oliiver, de 37 anos, diz que sempre encontra os consultórios cheios nesse período. “Aconselho prestar sempre atenção na escolha do profissional, se está certa em fazer o procedimento, se não é apenas modismo, se não pode esperar mais um pouco, se o que antecede o procedimento está tudo preparado e correto”, afirma Núbia.
RECOMENDAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA
DE CIRURGIA PLÁSTICA
O que os médicos devem analisar quando recebem adolescentes que querem colocar silicone:
1) Conformação corporal – ver se a garota ainda poderá crescer
2) Parte hormonal – checar se ela já menstrua
3) Anatomia da mama – perpectiva evolutiva do crescimento dos seios
4) Quadro psicossocial – conhecer os motivos que a levaram a querer aumentar as mamas
5) Participação familiar – saber se os pais ou responsáveis apoiam a decisão da menina
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
Blogueira
Disposta a tentar esclarecer dúvidas que as mulheres têm antes e depois de se submeter a uma cirurgia plástica, uma nutricionista paranaense de 25 anos decidiu criar um blog, o ‘lipoesilicone’. Ela pede para não ter o nome ou imagem divulgados, mas afirma que recebe muitas perguntas de adolescentes. A própria fez a página na internet após se submeter a algumas intervenções, como implantes de silicone, no final do ano passado.
“Antes da cirurgia fui atrás de informações e não havia relato. Decidi montar o blog e contar minha cirurgia para trocar experiências com outras pacientes e futuras pacientes”, conta ela, que colocou 325 ml e foi do sutiã 42 para o 46.
“Acho que com 16 anos não está totalmente formada. Vai da consciência dos médicos e dos pais também. As meninas precisam saber que quem coloca silicone tem dias bem complicados para dormir, como falta de ar e enjoo por causa da anestesia”, diz a blogueira.