Exercícios trazem diversos benefícios para quem se mantém ativo, mas em geral as pessoas acabam se esquecendo de uma qualidade importante da atividade física: a oportunidade de se desconectar do mundo. Veja o relato de Devon Corneal, publicado no Real Simple, a respeito do assunto. Vale a leitura!
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Eu me exercito vários dias por semana. Eu nado, corro, pratico yoga ou faço longas caminhadas com meus cachorros. Já me arrisquei em aulas de kickboxing e de spinning. Nos anos 1980 tentei também ginástica aeróbica. Não faço nada que envolva alguém gritando comigo, pois acho que já estou crescida de mais para isso. Claro que eu posso passar meses sem furar um dia e de repente relaxar por uma ou duas semanas – eu trapaceio e invento desculpas quando está chovendo -, mas eu sou boa em preservar uma hora do meu dia para praticar exercícios físicos.
É preciso dizer que tenho sorte para conseguir me manter assim: meu horário é flexível e trabalho de casa, por isso tenho mais possibilidades do que alguns amigos que gastam tempo se locomovendo para trabalhar em escritórios. Eu sei como isso é desafiador. Até recentemente eu trabalhava em período integral como advogada e encontrar tempo para me exercitar não era fácil. Eu tinha que levantar bem cedo ou então usar o horário do almoço. Nem sempre era fácil.
Não me entenda errado: isso não faz de mim uma santa ou alguém melhor. Eu sou uma mulher comum, com um peso normal e um toque de asma que evita se olhar no espelho durante a aula de yoga para não quebrar a imagem mental que tenho de mim como uma atleta ágil e flexível. Eu nunca farei um triatlo ou, Deus me livre, uma maratona. Mas exercícios físicos são parte importante da minha vida.
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Eu não pratico atividades por causa dos benefícios cardiovasculares, apesar do fato de minha família ter histórico de doenças cardíacas. Eu não me atrapalho toda nas aulas de yoga apenas para aumentar minha flexibilidade e meu equilíbiro com objetivo de evitar cair e quebrar meu quadril quando for mais velho, apesar de minha avó ter morrido justamente por isso. Eu desisti de esperar que as atividades físicas me dessem a energia necessária para acompanhar meu filho. Tampouco faço tudo isso para usar roupas caras de exercício com a esperança de que meu bumbum fique bonito.
Pratico exercícios físicos porque é o único momento em que tudo fica calmo. Na piscina, na pista de corrida ou no estúdio de yoga só consigo focar na minha respiração. Há uma quietude que só existe para mim quando eu presto atenção apenas no meu corpo e não na minha mente. Antes do meu batimento cardíaco acelerar, ele abaixa. Apenas em saber que eu tenho algum tempo sozinha já um grande alívio para o meu estresse.
Durante as aulas eu não posso ser contatada por e-mail para revisar uma matéria ou resolver um problema. Quando estou correndo não tem ninguém me ligando ou pedindo um lanche. Exercícios esvaziam minha mente e me levam para longe das minhas responsabilidades, me forçando a focar em mim mesma durante o tempo que minha playlist durar. Eu também descobri que tenho pequenas epifanias e rompantes de inspiração quando paro de lutar com meus problemas e começo a suar. Uma mudança de cenário e um batimento cardíaco acelerado fazem maravilhas na minha cabeça, isso sem mencionar meu humor. Eu volto para o meu trabalho ou para a minha família com a energia e a paciência renovadas.
Isso não é pouca coisa em um mundo em que estamos sempre acessíveis e somos demandados constantemente; em que o valor é atribuído àqueles que nunca deixam seus celulares de lado e respondem e-mails em minutos, se não em segundos; em que o barulho está em todos os lugares e a atração de curtidas e seguidores diminuem nossa existência não-digital. Sou suscetível a essas coisas tanto quanto outras pessoas, mas para fugir dessa pressão eu preciso sair dela.
É por isso que eu pratico atividades físicas. Se eu tenho que sofrer e suar para conseguir estes pequenos momentos preciosos, eu farei. Se minha calça servir em mim no fim do dia, melhor ainda.
Traduzido livremente do site Real Self. Leia o post original, em inglês, aqui.
Foto: AmandaD_TX (via Flickr / CC BY-NC-SA 2.0)