Pesquisa pioneira feita por brasileiros mostra que a aplicação das células curinga promove o rejuvenescimento da cútis de forma impressionante. A terapia pode representar a mais nova revolução na busca pela preservação da beleza
Por Cilene Pereira
Dois médicos brasileiros, em conjunto com um colega italiano, estão conduzindo um estudo que pode representar um dos maiores saltos da ciência para a manutenção da beleza da pele. Os cirurgiões plásticos Natale Gontijo de Amorim e Charles Araújo de Sá realizam no Rio de Janeiro uma pesquisa inédita para avaliar se a aplicação na cútis de células-tronco extraídas do próprio paciente são capazes de promover o rejuvenescimento cutâneo. A contar pelos resultados observados até agora, a resposta é sim. Elas reduzem a flacidez de forma impressionante – um dos principais objetivos de qualquer tratamento de rejuvenescimento -, além de assegurarem maior hidratação e viço à pele desgastada pelo tempo.
Até hoje, o principal avanço contra o envelhecimento da pele foi o surgimento do laser. A energia disparada pelos aparelhos provoca uma reorganização das fibras colágeno, responsáveis por dar sustentação à cútis, de maneira a melhorar o aspecto cutâneo. O que Natale, diretora da Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (regional Rio de Janeiro), Charles, chefe do Departamento Científico do Instituto Ivo Pitanguy, e o médico italiano Gino Rigotti, da Universidade de Verona, na Itália, estão fazendo vai por um caminho diferente e muito promissor. Ao investirem em células-tronco, os três optam por uma das principais apostas da medicina regenerativa da atualidade.
Essas células tornaram-se alvo de intenso interesse porque são como matrizes prontas a serem usadas para confeccionar a maioria dos tecidos do corpo humano. Elas não são especializadas, ou seja, não se tornaram ainda células com funções específicas. Podem, portanto, serem induzidas a se transformarem no que a medicina quiser. Se há uma lesão no músculo cardíaco provocada por um infarto, por exemplo, é possível fazer com que células-tronco assumam as características de células cardíacas e realizem as tarefas das que foram lesadas. Ou que dêem origem a vasos sanguíneos, garantindo que uma área atingida por qualquer agressão receba mais oxigênio e nutrientes. Elas podem ser extraídas de embriões (embrionárias), de lugares do corpo como a medula óssea ou a gordura (adultas), ou serem resultado de uma reprogramação feita a partir de células já especializadas.
A experiência dos três pesquisadores em relação à pele é a primeira do mundo do gênero a ser feita em seres humanos. As células-tronco usadas são extraídas da gordura do paciente, processadas em laboratório e injetadas na pele do rosto. Na etapa inicial, participaram vinte pacientes com idade entre 45 e 60 anos, todos apresentando flacidez parcial. A aplicação das células curinga foi feita em uma área próxima à orelha, na altura do bochecha. Após quatro meses, a pele tratada foi retirada em um facelifting (procedimento cirúrgico de rejuvenescimento) e analisada na Universidade Federal do Rio de Janeiro e na Universidade de Verona.
PROVA Charles e Natale se preparam para nova etapa do trabalho, com mais pacientes (Crédito:Stefano Martini)
Os médicos verificaram que as fibras elásticas (dão elasticidade à pele) danificadas pelo processo de envelhecimento natural ou por agressões externas, como os raios solares, desapareceram e deram lugar à fibras novas, intactas como as encontradas em uma pele jovem. “Foi um fenômeno extraordinário”, conta o italiano Rigotti. “Isso é muito difícil de acontecer em adultos”, acrescenta Charles. Houve outros benefícios constatados pelos cientistas. “A hidratação melhorou e a quantidade de vasos sanguíneos cresceu, garantindo mais nutrição e oxigenação”, afirma Natale. O procedimento também se mostrou seguro, não sendo registrada qualquer alteração que representasse risco à saúde.
REFERENDO CIENTÍFICO
As observações foram publicadas na revista científica Plastic and Reconstructive Surgery, a mais importante da especialidade. E outro artigo, com maiores detalhes, aguarda publicação na Stem Cell, outra publicação científica de renome. O trio de pesquisadores se prepara para a próxima etapa do trabalho, que contará com número maior de pacientes. Agora, serão cem. Eles pretendem concluir o estudo dentro de no máximo dois anos, prazo para que, acreditam, a terapia esteja disponível.
VIÇO RENOVADO
Células-tronco representam a grande aposta da medicina regenerativa
Saiba por que:
O QUE SÃO
• Células que ainda não se transformaram em células específicas (cardíacas ou ósseas, por exemplo)
• Por essa razão, possuem versatilidade para se transformar em qualquer tecido
TIPOS
Embrionárias – presentes em embriões, são as que apresentam a maior versatilidade
Adultas – encontradas em vários lugares do corpo: medula óssea e gordura estão entre as fontes mais acessíveis
Induzidas – obtidas a partir de um processo pelo qual células já especializadas são reprogramadas para funcionarem como células-tronco
USOS
• São estimuladas a se especializar para que funcionem como peças de reposição a serem colocadas no lugar das que foram lesadas ou ajudem a revitalizar áreas danificadas
• Há várias experiências pelo mundo: na cardiologia, por exemplo, elas vêm sendo testadas para recuperar áreas atingidas pelo infarto
COMO É A EXPERIÊNCIA NO REJUVENESCIMENTO
1. Os pesquisadores extraem as células-tronco da gordura do próprio paciente
2. Elas são processadas em laboratório
3. Depois, são injetadas em áreas determinadas da pele do rosto
O QUE FOI OBSERVADO
Promoveram o crescimento de fibras elásticas e aumentaram a hidratação e a concentração de vasos sanguíneos na região tratada
Houve a eliminação das fibras elásticas danificadas pelo envelhecimento natural. Elas foram substituídas por outras, intactas
Fonte: ISTOÉ