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Quando um desejo é apenas um desejo

By 28 de abril de 2015Nenhum comentário

Por que reprovamos mulheres que se submetem a cirurgias plásticas?
(Publicado originalmente no site da ELLE).

Há alguns anos, Lisa Kudrow, atriz que ficou famosa ao interpretar a personagem Phoebe no seriado Friends, foi entrevistada no programa Saturday Evening Post. Uma das perguntas foi sobre sua cirurgia plástica de nariz.

“Mudou minha vida. Na minha cabeça eu havia deixado de ser medonha. Eu fiz durante o verão, antes de ir para uma nova escola. Então muitas pessoas não sabiam como eu era feia antes. Foi uma mudança muito, muito, muito boa”, afirmou a atriz.

 

Lisa_Kudrow

Lisa Kudrow não é uma vítima de padrões de beleza injustos. Ela não é uma mulher obcecada em buscar um visual de estrela. Tampouco é alguém que acredita que seu valor depende exclusivamente de sua aparência. Ao invés disto, Lisa Kudrow é apenas uma mulher que fez uma rinoplastia anos atrás e que acredita que sua vida melhorou por causa disso. Algumas vezes é simples assim!

Eu sei porque também me submeti a uma cirurgia plástica. Quando digo às pessoas que eu fiz uma mamoplastia redutora, elas geralmente dizem que não conta: “Não é realmente uma cirurgia plástica. É por questões de saúde, certo?” Ou então: “É basicamente o oposto da cirurgia plástica. Você queria parecer menos sexy!”.

Algumas vezes eu concordo com eles. Não porque estejam certos, mas porque não vale a pena discutir – eles já decidiram que eu não cometi o pecado de alterar meu corpo cirurgicamente por razões puramente estéticas. Isto é para os fúteis e os rasos, e eu não sou nem um nem outro.

A verdade é que o motivo foi, sim, estético. Eu não gostava das proporções de meu corpo quando tinha mamas muito grandes. Roupas não me caiam bem e não havia sutiã esportivo que controlasse adequadamente o desconforto físico e psicológico do balanço das minhas mamas enquanto eu corria. É claro que eu poderia desenvolver problemas nas costas, mas isso não é 100% certo. Sinceramente, a sensação de leveza e a capacidade de usar roupas adequadas para mim fez a cirurgia plástica valer a pena que eu nunca fiz questão de justificar o procedimento como algo que fiz para minha saúde.

Pesquisas indicam que mulheres como Lisa Kudrow e eu são a regra. Um deles descobriu que apenas 12% das mulheres que se submetem a cirurgias plásticas têm expectativas irreais. A maioria das pessoas que realiza um procedimento não espera que uma pequena mudança as tornem pessoas diferentes. Como resultado disto, elas experimentam um aumento na satisfação pessoal e na confiança após as cirurgias plásticas. “Comparadas com aquelas que optaram por não se submeter a procedimentos, as pacientes se sentiram mais saudáveis, menos ansiosas, com maior auto-estima e acharam não apenas a parte submetida ao procedimento, mas todo seu corpo, mais atraente”, escreveram os autores. “Não foram observados efeitos adversos”, completaram os pesquisadores.

Falar da imagem corporal é complicado. A pressão para ter determinada aparência é real e a exigência apenas aumenta nestes tempos de smartphones e redes sociais. De acordo com a ASPS – American Association of Plastic Surgeons, o número de cirurgias plásticas aumentou 5% desde 2011, especialmente pela alta de procedimentos menos invasivos. A transformação física de celebridades apenas reforçam o movimento “salvem as mulheres delas mesmas”.

Muitos pensam que devemos acabar com este sistema que faz as mulheres acharem que devem ter um visual padrão para serem bonitas. Eu concordo que é preciso muito trabalho para fazer com que mulheres de diferentes etinias, biotipos e idades se sentirem atraentes também. Ainda assim, enquanto este trabalho importante é feito, é preciso dar espaço para que, quando todas estiverem livres destes esteriótipos, muitas mulheres ainda irão optar por se submeterem a uma cirurgia plástica. E isto também está certo. Nós podemos ampliar o padrão de beleza sem condenar quem faz esta escolha. Não se trata de feminismo, apenas, mas de que a ideia de liberação das mulheres também envolve a noção de que nem toda decisão pessoal deve ser comparada ao coletivo. Algumas vezes, um facelift é apenas um facelift.

Além de expandir nossos ideais de beleza e a tolerância, precisamos combater a ideia perniciosa de que nosso interior e nosso exterior estão     em desacordo. A forma como falamos de mulheres que se submetem a cirurgias plásticas é baseada na suposição de que cuidar de nossa aparência e de nossa alma são uma soma que deve dar zero. É uma lógica que leva a pensar que algo não natural em nosso corpo demonstra que internamente também temos algo falso, fazendo com que toda vez que escutemos falar de alguém que fez uma cirurgia plástica, balancemos nossas cabeças em sinal de repulsa e reprovação.

Eu acredito que é possível perseguir verdades pessoais usando batom, ser feminista depois de um facelift ou escolher algo falso e ao mesmo tempo ser verdadeira.

 

Com informações da revista ELLE.