Fonte: Folha de S.Paulo
Autor: Cláudia Colucci
Cirurgia plástica mais realizada pelas mulheres brasileiras, a lipoaspiração tornou-se também a líder entre os homens adultos no país, um público que tradicionalmente foge dos médicos.
Segundo os cirurgiões, a principal motivação masculina é o desejo de parecer mais jovem e seguir competitivo no mercado de trabalho.
Em 2013, um total de 184.933 operações estéticas foram feitas no país em homens –12% do total. Só a lipoaspiração, levou 27.529 deles ao bisturi para reduzir gordura localizada –especialmente na papada, nos flancos, onde se instalam os pneuzinhos, e no abdome.
Os dados inéditos foram extraídos do relatório da Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), divulgado em julho.
Um outro estudo da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e do Ibope constatou que, em 2012, a lipo ocupava o terceiro lugar no ranking (15 mil cirurgias).
Em números absolutos, a correção de ginecomastia (crescimento anormal das mamas) ainda é a operação estética masculina mais feita. Em 2013, foram 34.754 procedimentos no país.
Porém, 80% deles são realizados na adolescência, o que coloca a lipoaspiração na liderança entre os marmanjos entre 25 e 50 anos, segundo o cirurgião Carlos Uebel, presidente da Isaps.
Reprodução/Alex Argozino/Editoria de Arte/Folhapress
“É o cara que já fez ginástica, regime, mas acaba ficando com aquela gordurinha no abdome, nos flancos e no pescoço”, diz Uebel, ele próprio um “lipoaspirado”. “Foi a melhor coisa que fiz na vida. Hoje eu posso usar uma camisa acinturada, elegante.”
Para ele, os homens têm recorrido mais à lipo por pressão do mercado de trabalho. “O mundo corporativo está mais competitivo, exige boas condições físicas e estéticas.”
João de Moraes Prado-Neto, presidente da SBCP, concorda. “Eles querem se apresentar mais elegantes aos clientes, especialmente entre os 40 e os 50 anos.”
Entre os procedimentos não cirúrgicos, a toxina botulínica (botox) lidera, com 49.968 aplicações em 2013.
O cirurgião plástico Fábio Nahas, professor da USP, diz que a maior parte dos seus pacientes são executivos e profissionais liberais que querem parecer mais jovens do que na realidade são.
“Eles começam a ficar fora de forma e isso incomoda. Aos 50 anos, ou o cara aconteceu ou é despedido. A pessoa tem que vender hoje uma imagem de vitalidade.”
Segundo ele, muitos homens que fazem lipo também têm optado pela lipoestrutura, a cirurgia repõe volume de gordura perdida na face no processo de envelhecimento, usando a gordura da própria pessoa, retirada do abdome.
Em 20 anos, Nahas viu a população masculina do consultório saltar de 10% para 35% da clientela. “O tabu que o homem tinha está caindo com o passar do tempo.”
Nem tanto. A Folha falou com oito homens que fizeram lipo e nenhum deles aceitou fazer fotos. Seis deles só falaram na condição de anonimato. “Imagina a gozação dos amigos. Na época [que fez a lipo] falei pra eles que tinha operado uma hérnia”, diz o executivo Fábio, 45, que não revela o sobrenome.
Já o cantor sertanejo Luciano Camargo, 41, que passou duas vezes por lipoaspiração, diz que nunca sofreu preconceito. “Desde a Grécia antiga existe o culto à beleza masculina. Hoje as pessoas veem que é normal se cuidar” (confira trechos da entrevista com o cantor).
DIFERENÇAS
Segundo os médicos, o resultado final da lipo em homens costuma ser melhor do que das mulheres. Isso porque eles mantêm a elasticidade da pele por mais tempo, e a área de gordura abaixo da pele tende a ser mais firme e mais vascularizada.
Mas eles costumam ser mais “chatos e exigentes”, conforme Prado Neto. “Reclamam de qualquer detalhe, até o mais insignificante.”